domingo, 2 de outubro de 2011

Aflição


 Louca para ligar, mas com medo de ouvir o que poderia estar acontecendo do outro lado... Passei a madrugada toda com o coração na mão.
 E daí se ele estivesse transando com outra pessoa? Nós estamos tão longe e nem temos compromisso. Mas confesso que a ideia me entristece. Eu queria ser a única. A única que ele toca, que ele beija, que ele ama... Mas sei que não é possível.
 Uma chuva fina que mais parecia cerração e o cachorro deitado no chão, ao meu lado. Luzes apagadas. Na claridade do notebook, coloco meus óculos para escrever que as horas passaram preguiçosas. A angústia me consumia a cada "tic" e a cada "tac" do ponteiro.
 Sentia saudades de algo que nunca tive. De braços enlaçando meu corpo, sussurros ao pé do ouvido, sorrisos com os olhos rasos d'água... A vontade de estar com ele era cada vez maior. E conforme ela aumentava, aumentava também a minha desesperança.
 Eu queria mais que duas webcams ligadas. Eu queria mais que beijinhos mandados em high definition. Eu queria mais que apenas um jeito carinhoso de ser chamada. Eu queria ser quem está em sua mente. Eu queria fazer parte da vida dele. Mas a questão é: Será que ele quer?
 E a imaginação machucava mais do que deveria. Passei horas imaginando como ele a tocaria. Se apenas de forma carnal ou se colocaria sentimento.
 As lágrimas rolavam incansáveis em meu rosto. Sem ao menos saber se havia motivo para eu estar me torturando com aqueles pensamentos. Como se eu os pudesse controlar...
 A chuva caía mais forte. O céu estava em fúria. Além da angústia, o medo chegou para me fazer companhia. Só não sabia se meu medo era da tempestade ou de perder o que nunca me pertenceu.
 Como é possível gostar tanto de alguém que nunca esteve aqui?
 Cansada, com a cabeça vazia e o peito sobrecarregado, deito agora, com a certeza de que nunca deixei de demonstrar o que sinto.